A palestra com o estilista Ronaldo Fraga, ontem, dia 03.09, fazendo parte da XV Feira do Livro, em Belém foi tudo de bom.
O trabalho do estilista me chamou a atenção depois que passei a pesquisar sobre a literatura, outras linguagens e artes. O que me chamou mais a atenção foi a sensibilidade do estilista em juntar moda x literatura trazendo para as suas coleções a literatura, numa dimensão cultural e de identidades.
Anotei, durante a palestra de Ronaldo Fraga, alguns fragmentos de suas palavras: "É impossível falar de moda sem escrita, sem história. Moda é interpretação porque a roupa serve para a pessoa se redesenhar, fazer histórias (...).Quando menino, na escola pública, tive a oportunidade de ler vários autores de nossa literatura, mas só a partir de 2005, a literatura apareceu de forma mais explícita em minhas coleções(...).Se eu pudesse faria todas as minhas coleções baseadas na literatura.Em 2005,entrei no mundo de Carlos Drummont de Andrade (...).Drummont era um observador do tempo, era um autor de pequenos bilhetes.Falava sobre o nascer, o viver, a paixão, a morte, das coisas ,da vida.Eu quis entender a essência de Drummont e que cada peça tivesse a cara de bilhetes do autor (...).Depois veio o sertão. E muitos se perguntaram o que o sertão tem haver com moda?Muita coisa: Guimarães Rosa fala da linguagem dos bichos, da natureza, do homem.Reinventa o mundo das palavras, o vocabulário do sertão, tem cheiro de chuva, de árvores, de terra.(...).A coleção inspirada na obra de Guimarães Rosa trouxe o amanhecer do sertão que perde a força e encontra a morte no anoitecer. Foram 30 looks para lembrar o amor de Diadorim e Riobaldo, na obra Grande Sertão: Veredas (...)"
O estilista trouxe os vídeos para mostrar as coleções de 2005, 2008, 2010 e apresentou os looks inspirados nas obras do autores de nossa literatura.
Ronaldo Fraga falou de seu contato com a cultura pernambucana sobre os bordados e disse: "Fui alguém que entrou na cultura do outro e deu sua versão, sentiu a cultura do outro (...) Moda x cultura não foram inventadas por mim. Escolhi trabalhar com moda como ofício por vê-la como cultura. A moda, a escrita, a música são vetores de transformação. A moda só como moda é vazia, a moda deve ser vista como transformação para um grupo (...). Não entendo moda como produto de tendências rápidas(...).A moda para mim é prazer, se deixar de ser, eu vou aprender a cozinhar.Todas às vezes que apresento uma coleção penso que é a última vez (...). Minhas coleções no início não foram bem aceitas e corri riscos de fazer moda regional (...)".
Ronaldo Fraga tem um jeito especial de falar e demonstra que antes de fazer uma coleção se debruça para pesquisar, para descobrir, tem objetos de pesquisas e sujeitos para desvendar culturas, identidades, pessoas, lugares...prometeu pesquisar os cheiros e os mistérios de nosso Ver-o-Peso, mas afirmou que pela diversidade de coisas precisa de tempo e conhecimentos.
Fiz uma pergunta a ele dentro da literatura e demonstrei a minha admiração pela sua sensibilidade e pelo seu universo em estudar as obras de vários autores brasileiros e trazer para a dentro de suas coleções e que eu estava apaixonada pelas suas histórias (Ele é conhecido por ser um bom contador de histórias), seu relato sobre o Rio São Francisco é muito poético.Sabem o que ele disse?"Gente, recebi uma declaração de amor!"Fiquei meio sem graça, mas falei.Não tirei a foto com ele, muitas pessoas ( muitas mulheres) correram e cercaram o nosso simpático estilista e nem cheguei perto dele... que pena!
Meninas, o encontro com o nosso famoso estilista foi bem proveitoso e se eu já o admirava pelos desfiles no SPFW, agora muito mais...
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